Livro do mês de abril escolhido pela professora Joana Couceiro.
O essencial sobre a Arquitectura Barroca em Portugal, Paulo Varela Gomes
É uma escolha disciplinar e afectiva. Um pequeno livro, essencial, de um autor maior.
“Introdução em que se convida o leitor a conhecer e a gostar da arquitectura barroca: particularmente da que foi erguida em Portugal” é o sugestivo título do primeiro capítulo do livro que começa assim: “Não é fácil gostar da arquitectura barroca.”
Enquanto leitores, a formulação desta declaração de princípio dá-nos razão se, de facto, não gostarmos da arquitectura barroca; se, ao contrário, gostarmos, faz-nos sentir distintos, elevados (afinal apreciamos algo aparentemente difícil). Ou seja, por um lado, coloca-nos atentos ao autor que compreende a nossa dificuldade e parece querer convencer-nos do contrário; por outro, se pertencermos ao pequeno grupo dos que não precisam de ser convencidos, desperta-nos em relação às razões que explicam a nossa distinção; finalmente, se desconhecermos o barroco, a dificuldade anunciada em gostar-se daquela arquitectura, exponenciará, naturalmente, a curiosidade humana do leitor. A provocação é muito boa, serve a todos, e só podia ter sido escrita por Paulo Varela Gomes.
Tive a sorte de o ter tido como professor. No momento em que se comemora o trigésimo aniversário do Darq, escolhi lembrar um professor ímpar, sempre provocador, que continua a marcar o futuro de várias gerações de alunos.
Alguns anos depois de terminar o curso, pedi-lhe uma carta de recomendação para anexar à candidatura à bolsa de doutoramento da FCT. Sem rodeios, escreveu-me recusando porque não lhe interessava o tema. Dizia: “É um assunto que, sendo interessante, não é da minha área e não me preocupa particularmente neste momento. Estou muito “radical": sou contra toda e qualquer intervenção de "recuperação" que não seja ditada por motivos de coerência da imagem urbana ou paisagística do edifício ou conjunto a intervencionar. Ou seja, fachadas e volumetria. De resto: don't touch. Se não houver nada a fazer, deitem abaixo. Desculpe, boa sorte, bom trabalho e um abraço.”
Era assim, o professor (e o autor deste livro). Felizmente, as cartas acabaram por surgir e tive a sorte de ganhar a bolsa que financiou o doutoramento defendido, há poucos meses, nesta escola. Escrito com muito Paulo Varela Gomes, já Paulo Varela Gomes nos tinha deixado. Sim, deixou-nos. Por mais que pensemos que permanece nos seus escritos (disciplinares, romanceados), deixou-nos precocemente e sem respostas, como lhe era natural.
Professor de História da Arquitectura Moderna, deu-nos a conhecer a Arquitectura dos últimos cinco séculos e os Mestres Modernos que fazem parte do nosso dia-a-dia nos últimos anos.
Qual a arquitectura que prefiro, professor José Quintão? Se já tivesse lido este livro, no momento em que nos conhecemos, quando me fez essa complicada pergunta, dizendo-me que tinha uma paixão assolapada pelo barroco (aquele Barroco expressionista e vibrante de Borromini), talvez lhe tivesse respondido, com mais elegância, que não era fácil gostar dessa arquitectura.