CARLA, SEDE AEFAUP

Beatriz Ferreira: Primeiramente vou começar por perguntar há quanto tempo trabalha na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto(FAUP)?
Carla
: Ora bem, eu comecei a trabalhar na Associação de Estudantes da Faculdade de Arquitectura do Porto (AEFAUP) em Março do ano passado, de 2017. Portanto, trabalho aqui há relativamente pouco tempo. Um ano e pouco.

BF: Uau. Parece muito mais. Acho que é uma opinião geral que AE= Carla, Carla=AE.
C:
(Risos) Pronto, porque se calhar também interajo muito com os alunos e tenho uma postura muito aberta portanto é natural que as pessoas pensem isso, acho eu.

BF: Pois. Tinha alguma perspetiva quando veio trabalhar para a AEFAUP?
C:
Ora bem, eu sabia que vinha trabalhar para uma associação de estudantes, que era um trabalho que tinha muitas funções administrativas. Mas depois foi uma agradável surpresa. Porque a cada dia que passa há coisas novas para fazer. Cada aluno é diferente do seu colega. É muito engraçado haver esta partilha de informações entre a Carla (AEFAUP) e os alunos da faculdade.

BF: O que se sente quando se afasta da FAUP, em férias por exemplo?
C
: Eu adoro férias como a maioria das pessoas saudáveis, ok? (Risos) Estou tranquila quando estou afastada e geralmente desligo. Há passwords até que me consigo esquecer. Mas isso é bom. De qualquer forma estou sempre disponível para atender os meus da direcção da associação mesmo quando estou em férias.

BF: Mas por exemplo, o ambiente não só da AEFAUP,  mas dos alunos em geral, sente alguma falta? Sabendo que férias são fantásticas. C: Férias são fantásticas, e há um tempo para tudo, certo? Eu não sinto a falta da actividade da AEFAUP quando estou de férias porque são férias. Se eu deixasse de vir trabalhar para cá, há uma diferença aqui enorme. Se eu deixasse de vir trabalhar para a associação garantidamente eu ia sentir uma falta dessa convivência diária. Como são férias e é um período dedicado à família, ao lazer, aos passeios, eu não sinto falta da AEFAUP enquanto estou de férias, ok? Não vou mentir.  (risos)

BF: Quanto à receção de novos alunos. Eles andarem por aqui todos perdidos, virem cá sempre perguntar questões à Carla. C: É muito engraçado. Portanto, é a segunda vez que eu participo num início de ano letivo, são muito pequeninos (risos). Mas eu digo isto com muito carinho. Nota-se que andam perdidos, alguns deles. E acho também que é nossa função, nossa da AEFAUP e minha enquanto secretária da mesma, de tentar ajudar, por vezes, a orientarem-se um bocadinho. A verdade é que muitos não são de cá, vêm de fora, e sentem-se um bocadinho desamparados. E se calhar, um sorriso, uma palavra amiga, uma atenção, pequenina que seja, pode ajudar a uma melhor integração.

BF: Qual é a sua parte preferida, do seu trabalho?
C
: O que eu gosto mesmo mais é de interagir convosco. Não só com os membros da AEFAUP mas com os alunos em geral. Já aprendi muitas coisas convosco. Puxo orelhas quando acho que tenho que puxar (risos). Mas também sinto que dou um bocadinho de colo e de mimo em algumas ocasiões. E se calhar é por isso que há bocado quando nós começámos esta conversa tu dizias que para muitas pessoas ‘A Carla já é uma “montra”’ digamos assim da AEFAUP. Se calhar também porque há esta interação e este tipo de atitude.

BF: Sei que é pouco tempo, e esperemos que seja muito mais (risos). Mas a Carla gosta de trabalhar aqui certo? C: Gosto. Gosto mesmo muito. Com a mesma frontalidade que disse há pouco, quando estou de férias estou ótima de férias e não sinto falta de estar aqui. Também te digo com toda a sinceridade que gosto verdadeiramente de trabalhar com a AEFAUP. E digo isto a quem quer que seja. Já tive a oportunidade, inclusivamente, de dizer em público numa cerimónia. Mas é mesmo um prazer muito grande trabalhar aqui. Venho sempre com vontade de vir trabalhar. Portanto isso é, para quem trabalha, e um dia vais perceber isso, fundamental.

BF: Tem algum conselho que possa dar, especialmente aos alunos que entram pela primeira vez na FAUP? C: A FAUP é uma parte da vossa vida. Qualquer escola é uma parte da vossa vida. Já foi da minha, agora é da vossa. E vocês devem sempre ponderar as decisões que tomam. Ou seja têm que ser responsáveis mas não devem entrar numa espiral de desespero. Por vezes, eu assisto, geralmente em entregas (risos). Acho que vocês têm que gerir muito bem o vosso tempo, o que nem sempre acontece. Vocês não fazem essa gestão da melhor forma. E eu percebo porque também já tive vinte e vinte e poucos anos. Mas se calhar em alguns contratempos vocês conseguiam ultrapassar mais facilmente se tivessem uma gestão de tempo mais certinha (risos).

BF: A Carla já tinha trabalhado em algo relacionado com Arquitetura de alguma forma?
C
: Com arquitetura não. Eu sou licenciada em relações internacionais culturais e políticas e trabalhei durante muitos anos na área de marketing e comunicação. Era gestora de comunicação. Depois tive uns anos desempregada quando aconteceu a crise. Pronto , tocou um bocadinho a todos, a mim tocou-me o desemprego e em arquitetura nunca trabalhei. Agora, como eu sempre desempenhei funções em comunicação e relações públicas dá-me se calhar alguma facilidade na gestão de relacionamentos aqui dentro. E por exemplo, na gestão de lançamentos de concursos para merchandising e etc, sempre foi uma área que eu estive muito à vontade. Agora, relacionada com arquitetura não, é a primeiríssima vez.

BF: E sente que mudou a sua maneira de ver o ‘mundo de arquitetura’? Muitas pessoas acham que o mundo das artes vê o mundo duma maneira diferente, por assim dizer. C: Sinceramente, eu achei que ia ser mais diferente. Ou seja, se calhar se formos a uma faculdade de Belas Artes somos mais confrontados com essa situação. As pessoas fogem um bocadinho mais do ‘padrão’ digamos assim. Aqui temos de tudo como é óbvio, mas isso é saudável. Claro que agora já sei mais nomes de arquitetos (risos). E vou aprendendo sempre alguma coisa.

BF: Carla, qual é que acha que é a altura mais complicada do trabalho?
C
: Há duas alturas que são mais trabalhosas. É a altura da Queima e do FAUP Fest. E é a altura do início do ano lectivo que é onde estamos agora. Porque há muita, mas muita coisa a tratar mesmo.

BF: E qual é a sua altura preferida do ano?
C
: Eu gosto desta (risos). Embora tenha muito trabalho, cada dia é uma coisa nova que vai aparecer. Há sempre qualquer coisa para resolver e eu não gosto muito de estar parada. Faz-me confusão.

BF: Quando começou a sua carreira o que achava que iria acontecer?
C
: Não sei. Eu na altura não tinha já definido o que eu queria em termos profissionais e depois também aprendi que não adianta muitas das vezes nós termos isso tudo definido porque a vida dá imensas voltas, então mais vale nós estarmos sempre ‘open-minded’ no sentido de, ok agora há aqui uma curva para a direita, vamos lá ver o quê que acontece. Tudo muito decidido à partida não resulta. Dizem-me os anos que eu já tenho (risos). Sempre gostei muito de trabalhar em marketing e comunicação, e gestora de comunicação era algo que gostava e gostei muito de desempenhar. Mas não estava muito definido a partida quando acabei o curso. Acabou por acontecer.

BF: Mas está contente com o desfecho desse percurso?
C
: Não retiro uma vírgula ao que disse há pouco. Eu gosto mesmo muito de trabalhar aqui. Eu acho que nós temos que aprender a ter sempre mais que uma perspetiva sobre determinado assunto. Tens que conseguir pensar os assuntos mais do que uma maneira. Se te mantiveres sempre numa linha contínua vais-te martirizar. Porque vais estar sempre a pensar no ‘e se?’. Não. Deixa fluir, antigamente não pensava assim, mas agora penso mesmo muito. Hoje estou aqui, espero continuar mas, se acontecesse um percalço qualquer tinha que se seguir em frente. Mas isto vem também com alguma maturidade acho eu (risos).

BF: Num assunto relacionado menos com o trabalho, o quê que a Carla gosta de fazer no seu tempo livre? C: Olha, eu gosto muito de cantar, e canto num coro. Gosto muito de ler e de escrever. E de passear obviamente. É saudável. Por exemplo em relação ao coro: eu canto num coro uma vez por semana e é o meu momento “zen” da semana. Eu não abdico daquilo por nada. Por acaso é mentira, que já abdiquei de um ou dois ensaios por causa de cerimónias aqui na faculdade (risos). Mas é algo que me conforta. Não sei explicar muito bem. É aquele momento da semana em que eu paro, respiro fundo e deixo tudo lá fora. E só estou a cantar. Saio de lá como com uma alma nova, completamente lavada.

BF: Sei que isto parece um bocado aleatório mas Carla, tem algum local preferido?
C
: Se me falares num local de forma abrangente, eu vou dizer o campo. Eu gosto muito de fazer férias no campo. Gosto muito do silêncio que se vive em alguns desses locais. E adoro ter os meus momentos de silêncio, com dois filhos nem sempre acontece (risos). Mas tem que haver um tempo para tudo.

BF: Isso é interessante visto que no espaço de trabalho existe o completo oposto.
C
: Sim, exatamente. Mas gosto, gosto muito. E em férias, se quiser desligar do mundo exterior provavelmente procurarei o campo para o fazer. Eu não gosto de férias muito agitadas, de grandes correrias, de imensos horários para cumprir. Não. Não gosto mesmo. Porque férias é exatamente sair da rotina e horários a cumprir todos nós temos durante todo o ano, certo? Portanto quando estou de férias evito ao máximo. Aliás, eu que ando sempre de relógio, nas férias geralmente tiro o relógio. Para não estar constantemente a ser escrava dos horários.

BF: Voltando um bocado ao tema anterior. Se eu dissesse FAUP, o que lhe vinha primeiro à cabeça?
C
: Jovens. Jovens estudantes naturalmente seria a primeira coisa que me viria à cabeça. Sendo que eu ainda parei para pensar que há um grande número desses jovens estudantes que passaram por mim no ano passado e agora alguns estão a passar com quem eu fiz boas amizades e não deixa de ser engraçado. Porque eu podia ser vossa mãe em imensos casos (risos).

BF: Alguns desses laços mudaram-na de alguma forma?
C:
Garantidamente. Há situações em que agora eu acho que sou mais condescendente (risos). Porque percebo que, muitas vezes, nomeadamente os membros da AEFAUP, estão de tal ordem sobrecarregados entre aquilo que têm que cumprir como estudantes e aquilo que têm que cumprir como dirigentes associativos que não é fácil fazerem essa gestão de todas as tarefas. E, portanto isso se calhar, lá está, ensinou-me a ser mais condescendente. Muitas vezes tento ajudar em assuntos que à partida não teriam haver comigo mas eu alerto. Há um número de situações que eu tento “proteger-vos” (risos).

BF: Como é que acha que é o ambiente estudantil aqui na FAUP?
C
: Eu não consigo estabelecer uma comparação entre o ambiente estudantil na FAUP e nas outras faculdades porque eu não conheço o ambiente estudantil nelas. Portanto, eu acho que aqui, sem estabelecer comparações, acho que há um ambiente que é saudável. De vez em quando gostava de ver as pessoas a envolverem-se mais em determinados projectos da associação ou não. Porque quem menos se envolve a maioria das vezes é quem mais critica, mas não faz a mais pequena ideia do que se passou para algo ter ou não acontecido. E acho que se as pessoas procurassem mais envolver-se, então poderiam falar com mais razão se tivessem alguma coisa a dizer. E se calhar a comunidade poderia até evoluir de uma forma diferente mesmo em termos de participação noutro tipo de projetos.

BF: Para muitos alunos, a FAUP é uma segunda casa, por vezes, em alturas de entregas a primeira até (risos). Sente que nessas alturas mais complicadas, exista um ambiente mais de união?
C:
Sim, já vi isso várias vezes. Acho que quando um colega está mais em baixo, muitas vezes, os outros, estando também estoirados, mas com outro ânimo naquele dia, tentam ajudar e muitas vezes ajudar não só com palavras mas também em atos. E acho que sim, isso é bonito. Se bem que eu acho que vocês chegam a um ponto que estão todos tão exaustos (risos).

BF: Muita gente vem desabafar aqui para o seu gabinete consigo. Como é que se sente sendo muitas vezes o “porto seguro” dos alunos? C: Eu também sinto isso. E no ano passado acho que cheguei a usar esta expressão algumas vezes. Eu dizia ‘isto aqui, hoje parece o muro das lamentações’. Quando vocês estão exaustos e a precisar de um abracinho (risos) muitas vezes passam por cá. Porque estão cansados, têm que desabafar, as famílias não estão aqui, e então vêm aqui desabafam, ouvem uma palavrinha se calhar que encoraja a dizer ‘Vamos lá! Pronto já falta pouco! Está quase, daqui a dois ou três dias já estás de férias’ quando é nessas ocasiões eu sinto muito isso. Isso acontece com muita frequência.

BF: Como se sente, em tão pouco tempo, ter tido um impacto tão grande na ‘comunidade faupiana’?
C:
Ainda bem, fico muito contente. Em primeiro lugar, fico verdadeiramente contente e verdadeiramente agradecida. Porque eu já trabalhei em muitas empresas e acho que nunca fui tão… está-me a faltar o termo… Bem, vocês sabem dar e receber. E isto é duma importância que se calhar agora vocês nem lhe atribuem essa importância. E sabem reconhecer quando as pessoas trabalham em prole, neste caso da associação, mas dos estudantes da faculdade. Eu acho que de todos os patrões  que tive até agora, os membros da associação de estudantes, e vou em duas direções, ainda é cedo para falar, são daqueles que mais gratidão demonstraram.

BF: Agora uma pergunta mais chata, o que é o mais chato de trabalhar na AEFAUP?
C:
Bem, quando vocês não cumprem horários, indicações que eu dou, não me devolvem chamadas, não respondem aos SMS pronto. Isso é que me deixa doida. Fica a dica para todos (risos). Não mas isto é mesmo verdade. Vou-te dar um exemplo prático. Se há uma data para esvaziar cacifos, essa data tem que ser cumprida. E a chave tem que ser devolvida. Quando eu chego lá em baixo o cacifo tem que estar vazio, não cheio de tralha. Pode ficar o recado também para todos (risos).

BF: Carla, tem algum livro ou um filme para aconselhar?
C:
Olha eu vou-te dizer, o livro que em mais adorei até hoje foi o “Ensaio sobre a Cegueira” de José Saramago. Acho que toda agente devia lê-lo. Acho que se aprende, muito, muito se o lermos com os olhos e com o coração. Que isso é importante. Outro livro que não tem nada haver que posso dizer também é “A soma dos Dias” da Isabel Allende. Porque é o retrato da vida de uma pessoa e fala muito na evolução da vida das pessoas e nas voltas que as nossas vidas dão. É um bocadinho aquilo que dizia há pouco, de termos que deixar fluir muitas vezes. De filmes… há muitos que eu gostei. Há um clássico que não devem nunca ter visto a maioria que é o “África Minha”. É um filme muito bonito, com uma história de amor muito bonita, que tem paisagens fantásticas do Quênia e retrata a história da vida escritora que escreve o livro no qual é baseado e vale a pena ver. Também é uma lição de vida. É bom que os livros e os filmes que nós vemos tenham alguma coisa que nos passe.