MENINAS FÁTIMA, ANA, JU E CLÁUDIA, BAR

Catarina Casanova: Como estão? Como foi o dia de hoje?
Fátima Anjos: Todos os dias são bons e hoje também foi bom.
CC: Vamos pedir que se apresentem antes de mais e de onde vêm.
FA: Fátima Anjos e sou de Sabrosa.
Ana Veloso: Eu sou a Ana Veloso e sou do Porto. Vê-se logo.
Júlia Fernandes: Eu sou Júlia Fernandes e também sou do Porto.
Cláudia Machado: Sou a Cláudia Machado e também sou do Porto.

CC: O que faziam antes?
FA: Antes de vir para aqui? Já estive aqui.

CC: E o que é que fazia?
FA: Estive a cozinhar lá em cima nas estufas.

CC: Como assim nas estufas?
FA: Há 30 anos.

CC: Nas estufas havia uma cozinha?
FA: Havia uma cozinha improvisada. Eu vim para cá para substituir a D. Rosa que teve o filhote dela e acabei por cá ficar 5 anos. Há muitos professores aqui que eram alunos quando eu cozinhava.
AV: E eu trabalhei numa confeitaria, no Porto, antes de vir para aqui, durante 13 anos.
JF: Foi o meu primeiro trabalho, este. Estou aqui há 9 anos.
CM: Trabalhei como auxiliar de educadora de infância no Centro Social da Foz do Douro.

Ana Chaves: Como é que cá chegaram?
CC: A D. Fátima já cá estava...
FA: Não. Fui embora, trabalhei 10 anos numa empresa, depois houve um concurso e eu concorri.
AV: E eu foi através do fornecedor da D. Fátima
FA: Das laranjas…Tinha uma amiga que precisava de trabalho e eu, na altura, precisava de uma colaboradora e foi a Ana. JF: Uma amiga da filha da D. Fátima que sabia que a mãe precisava de alguém.
CM: Eu vim cá parar através da irmã da D. Fátima
FA: Ah! Porque a Cláudinha é minha prima.
CC: Isto é só família.
TODAS: Sim [risos]

AC: Qual foi a equipa inicial?
FA: A equipa inicial era eu, era uma cozinheira que também era Fátima, uma menina chamada Lúcia e uma Lili, mas que é não esta que vem cá de vez em quando.

CC: Qual a vossa primeira reação a este edifício?
FA: Eu quando estive cá era só a parte cor de rosa, esta ainda estava a ser construída. Depois quando eu saí, estava praticamente feita e já funcionavam três torres, acho eu. JF: Não sei, foi bom, foi bom.

AC: O que acham do vosso espaço de trabalho?
AV: O nosso espaço devia ser maior! [risos]
FA: A cozinha devia ser maior, o bar devia ser maior. Para as refeições que a gente serve, por mais esforços que nós façamos é complicado porque é servir almoços, café, bolos, sandes, essas coisas todas a meio do almoço. Todas as faculdades têm uma cantina e o bar. Mas fico satisfeita porque passam aqui muitos meninos e fazemos muitos almoços.

CC: Acha que haveria alguma solução rápida para isso?
FA: Aumentar o espaço, mas é impossível.

AC: Como se adaptaram ao espaço existente? Como o gerem?
FA: Com muita coordenação, não é? Estamos bem coordenadas. Quando eu cheguei aqui isto não era assim. Por aquilo que no início me foi dito, ficou melhor organizado. Na altura a tostadeira estava deste lado. As pessoas que estavam aqui tinham de fazer as tostas e prensar. Agora há uma pessoa lá dentro só para isso, uma menina na caixa e quando está mais gente venho cá fora. A Ju está sempre lá atrás a comandar as panelinhas, porque aqui à frente não gosta muito.
AV: Porque mesmo que a D. Fátima queira pôr aqui mais pessoal, não dá, porque isto é muito pequeno, não vamos andar lá dentro aos encontrões, nem pensar! O problema é mesmo o espaço.

CC: Quantas outras pessoas trabalham aqui e quais os seus nomes?
FA: É o meu marido [risos], a Ana, a minha filha, a Lili, a Adélia e a Sara, nas horas de mais movimento, que são a senhora da loiça e a senhora dos tabuleiros. É só mesmo 3 horas cada uma, nas férias elas não estão.

CC: Como é trabalhar nesta equipa?
CM: É uma família que temos aqui.
FA: É bom. Mas às vezes enervam-me! [risos] Mas depois passa. Os ditos 5 minutos.
AV: Faz parte, tudo passa. Damo-nos todas bem.
JF: É um bom ambiente.

CC: E em relação ao resto da comunidade escolar?
FA: Muitos meninos nós sabemos os nomes deles.

CC: Como é que decoram tantos nomes?
JF: Os que comunicam mais connosco...
CM: Estão cá há mais anos. Nós já conhecemos, falamos mais.
FA: Meninas, sejam lá sinceras. Porque é que tu, Claudinha, decoras tantos nomes? Porque às vezes os meninos ficam-te a dever e tu perguntas-lhes o nome! [risos] E muitos deles vêm da Universidade Júnior e reconhecem-nos.

CC: Falem-nos de um dos melhores momentos que passaram aqui.
AV: São muitos. Eu acho que há mais do que menos. Às vezes choro de tanto rir. Ainda há pouco tempo a professora Carla virou-se para mim e disse-me ‘nunca me ri tanto’. JF: Ela nem sabia do que nos estávamos a rir. Às vezes do nada começamo-nos a rir. Há aqueles momentos de stress e de repente acalmamos com os disparates.

CC: E na altura das entregas? Como é ver-nos chegar aqui sem dormir?
FA: Às vezes é complicado. Mas é bom. [risos]

CC: E assim um momento mais complicado?
FA: Houve um ou outro, mas não tinha nada a ver com os meninos.
AC: Qual foi o pedido mais estranho que vos fizeram? Uma francesinha às nove da manhã… [risos] AV: Ah, mais cedo!
JF: Ovos mexidos…
CM: São uns miminhos..
CC: Fazem isso? Bom saber! É melhor não pôr isto na entrevista…
FA: Pode pôr.
CM: Mas só na altura das entregas!

CC: O que sentem que mudou mais ao longo dos anos?
CM: Olhe, sou sincera. Eu quando cheguei aqui não sabia fazer nada. Aqui aprendi tudo. A tirar cafés, a fazer prensados, a fazer comida… O que mudou mais foi a nossa vida. Falo por mim que estou aqui há 12 anos.
FA: Levei imenso trabalho para que a Cláudia ficasse como está. Quantas vezes lhe dizia “Cláudia. Faz favor de rir”. Ela cada vez está melhor. AC: E em relação às pessoas?
CM: Sou sincera, alguns meninos eu não gostava e agora já gosto. [risos] Ao longo dos anos uma pessoa vai simpatizando mais. CC: E com os Erasmus? Como fazem?
FA: São tão queridos. Só a Cláudia é que fala inglês. Há coisas que eu percebo, mas não falo. A Cláudia vai-se desenrascando. A Ana não percebe nada. AV: Vocês já viram. [risos] Eu peço ajuda. Quando lá vamos também temos de nos desenrascar.

CC: Um dia quando se forem embora, do que é que vão ter mais saudades?
FA: Eu vou ter saudades dos meninos, sou sincera.
CM: Eu vou ter saudades de tudo!
FA: Eu vou ter saudades do stress, porque que sou uma pessoa muito ativa, mesmo. Eu não paro e também as faço mexer, elas que o digam! Eu não digo ‘faz!’, eu se disser para elas fazerem, já estou a ir e a fazer.
AV: É verdade. [risos] Eu vou ter mais saudades dos meninos, porque eu gosto muito do convívio, da equipa, gosto muito das pessoas com quem estou aqui a trabalhar.

CC: Qual a sensação que têm ao fechar? [risos]
AV: A minha é de alívio, vou descansar!
JF: É mais um dia que passou. Vou trabalhar mais 5m? Não! Amanhã é outro dia.
AV: Mas faz-se bem…

CC: Qual é a vossa altura preferida durante o ano todo? É a semana das dissertações que não está cá ninguém? JF: Não.
AV: É horrível.
CM: Nós às vezes preferimos ter meninos aqui porque…
AV: Passa o tempo mais depressa.
JF: O mês de Agosto aqui, olhamos para o relógio, fazemos mais qualquer coisa…
FA: Eu não gosto de estar. Não gosto de estar em Agosto, não gosto de estar cá nas férias, eu não gosto de estar cá sem meninos.

CC: Como lidam com a questão dos copos e dos pratos de plástico?
JF: Os pratos desaparecem que é uma coisa… E os copos...
FA: De 100 pratos que nós tínhamos em setembro a Ana contou-os ontem e eram 52… Tive uma reunião com a AE e disse que ia eliminar os copos e pratos de plástico, mas a desaparecer...
Para já os pratinhos de plástico vão voltar. Os copos há metade de cada para os meninos que quiserem levar. AV: É copos, talheres... Também nos faltam muitos talheres.
FA: As chávenas desaparecem, vão para as salas e não voltam… Às vezes as senhoras da limpeza ainda trazem, mas não é suficiente. AV: Alguém da associação até fez uma cartaz para pôr lá em cima, para alertar os meninos a devolver a louça. Passado uns dias, já não estava lá. E assim não vale a pena… FA: Tive de pôr alguém a recolher os tabuleiros. Quando está bom tempo ficam todos aqui e há mais espaço. É muito complicado em dias de chuva pela falta de mesas. E do meio-dia às duas não se pode estudar.
AV: Muitas vezes tenho de vir chamar a D. Fátima, porque eles não me obedecem! [risos]

CC: E cinzeiros? Já tentaram?
FA: Já tivemos, já desapareceram. Deixámos de ter. As mesas e as cadeiras estão queimadas e tudo.
AV: Eles apagam os cigarros nas pernas da cadeira e da mesa. E o queimado do cigarro não sai.

AC: Há assim mais alguma que se lembrem, que nos queiram contar, revelar?
FA: Não sei. Elas que contem, senão elas dizem “ai, a dona Fátima nem nos deixou falar”. [risos]
JF: Está tudo dito.
AV: Somos uma boa equipa.
FA: Digam vocês. Gostam de cá estar a trabalhar?
AV: Tanto gostamos da nossa senhora que, quando ela fez 50 anos, estivemos aqui.
FA: A minha família disse que me ia levar ao Avillez. E eu disse “ai, mas é tão caro!”. Combinaram tudo com elas e até o segurança entrou! Ligou-me a dizer “D. Fátima tem de vir à faculdade que não há luz e as arcas estão cheias!”.
AV: Foi ideia da Ana, da filha.
FA: E eu cheguei aqui e estavam todos ali escondidos! Adorei, adorei.

CC: E esse não é um dos melhores momentos?
AV: Então não é? A ideia não foi nossa, mas colaborámos todos para isso.
CM: Aqui no Natal também fazemos uma festa.
AV: E nós às vezes encontramo-nos nas férias.
JF: Já fizemos amigo secreto. Agora distribuímos...
FA: Começamos a contar umas às outras e quando recebemos já sabemos.

AC: E porque é que a Menina Ju é a Biju da D. Fátima?
AV: Porque a senhora faz as vontadinhas todas à menina, à Bijuzinha dela!
JF: Porque sou a que está mais perto dela lá dentro. Sou a primeira a levar na cabeça porque estou ali mais ao lado. CM: E muitas vezes as outras levam na cabeça por causa da Biju! [risos]
AV: A sorte dela é que eu não percebo nada de cozinha! Se eu percebesse… quem ia ser a Biju da senhora era eu! [risos] FA: À sexta-feira eu saio mais cedo para ir ter com a minha mãe e elas ficam um bocado atrapalhadas.
AV: Mas sai uma patroa e fica outra! [risos] Por isso é que eu digo que é a Bijuzinha. Eu também mando vir com a Cláudia, mas depois passa. Dou-lhe um beijo. Ela irrita-me e enerva-me e não anda e eu tenho que andar! [risos] Mas depois passa, não passa? Que remédio...
CM: Ela depois paga-me. [risos]
FA: A conversa está muito boa. [risos] A Biju tem de ir embora mais cedo, o marido vem buscá-la, porque lhe assaltaram o carro. JF: É bom que fique na entrevista para porem mais segurança!
AV: Ainda bem que eu venho de autocarro… [risos]

Fotos: Aúna Nunes