A INCONFORMADA

 

Como mote da exposição, a AEFAUP usou o projeto começado no ano letivo 2018/2019, O INCONFORMADO. O departamento de Políticas da AEFAUP (2021/2022) começou por fazer “ajuntamentos” [1] – este nome terá, também, surgido pela irrequietude da palavra nos tempos pandémicos – que eram meras reuniões informais de pessoas. Foram discutidos vários temas, como a falta de tempo, a falta de espaço, a falta de organização, a falta de transparência da faculdade. Deu, sobretudo, para ver que não estávamos sozinhos no inconformismo. Este espaço era utilizado como ágora onde toda a gente era convidada a participar – no último ajuntamento as senhoras da limpeza intervieram e, também, se queixaram de coisas que queriam ver mudadas.

Todos estes eventos culminaram numa exposição da AEFAUP, de todos os alunos. A inconformada ‘Voltar à vaca fria’ [2] - exposição no espaço expositivo da faculdade de arquitetura da UP - serviu para mostrar ao público como o aluno comum se sentia. Abafado, desmotivado, cansado. O resultado foi completamente inesperado. A pré-inauguração deu-se no dia do FAUP Test#1 [3]. De maneira engenhosa, o grupo da direção da exposição viu por bem a venda de bilhetes dentro do salão de exposições, no cerne da inconformada, afinal, há maneiras de fazer interessar o aluno do ensino superior, nem que se tenha de oferecer uma cerveja.
A exposição teve repercussões extraordinárias.
Dividida em duas partes, a parte de fora tinha um tom muito mais expositivo, menos crítico. Eram apresentados todos os conselhos da faculdade, suas funções e seus membros ao longo de 3 mandatos. Com uma linha vermelha eram feitas as ligações entre os vários conselhos (pessoas comuns aos vários conselhos) e com linha preta as ligações entre os vários mandatos dentro de cada órgão.
A parte de dentro tinha um tom muito mais crítico. Esta parte era composta por, inicialmente, 4 instalações e, mais tarde, por 5. [4]
A seguir, fotos das instalações e respetivas legendas. Não me atreveria a tentar pôr em texto a exposição, uma vez que falharia catastroficamente.


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Talvez esta exposição tenha trazido alguma inquietude à comunidade académica, talvez não. Foi mais uma tentativa de estimular os estudantes a focar na vida para além das notas, para além da Arquitetura.
Confesso que acredito que muito deste desinteresse se deve ao facto das pessoas preferirem o conforto, o numbness de não pensar e não querer sentir a dor de pensar. Simplesmente pelo facto de ser mais fácil. Esta crença deixa-me profundamente angustiado, o preferir ficar em casa, o preferir a estar no scroll infinito, o preferir que nos seja apresentado alguma coisa no randomness da Netflix ao invés de adquirir cultura, sair, criar pontos de vista diferentes e perceber o mundo que nos rodeia. Talvez seja, também, culpa da mecanização do ensino, ou até mesmo da mecanização da vida. Somos educados para
fazer,
fazer,
fazer.
E Pensar? Será que somos educados para Pensar?


[1] Na capa dos ajuntamentos, uma vaca. Uma capa que se veio a revelar e a explicar o seu sentido mais tarde. Foram feitos Flyers e bases de tabuleiro do bar, distribuidos por todo o lado

[2] «retomar um assunto interrompido, insistir em questões já debatidas» in Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/a-origem-da-expressao-voltar-a-vaca-fria/21314\

[3] FAUP Test surgiu como uma maneira de trazer cultura musical à Faculdade de Arquitetura. Em forma de churrasco, os estudantes e pessoas do porto, apareciam para mais uma promoção cultural organizada pela AEFAUP.

[4] A instalação “amontoado” foi retirada pela Direção da Faculdade que apresentou as seguintes justificações: não representava a realidade, denegria a Direção da FAUP, a AEFAUP não pediu autorização para usar entulho presente nas catacumbas e o material usado iria nessa semana para arranjo.


Trabalho Realizado pelo Estudante Afonso Bernardo no âmbito da unidade curricular de Teoria 2, tendo como docente o Professor Joaquim Moreno.

FAUP, 2021/2022